A critério de vocês...

Hoje eu venho para falar de algo que deixa as pessoas dividas: os jornais sensacionalistas. Não me refiro ao “jornalismo” em si dividir, mas a imagem que ele passa de que o mundo está condenado. De fato a violência cresceu bastante, entretanto é natural com o aumento da população. Os que assistem esse tipo de manchetes acabaram criando uma paranóia das pessoas enquanto os que não assistem estão mais “light”.

Primeiramente, antes de abordar o tema mais a fundo, como esses jornais chegaram? Quando eu tinha meus tenros quatro anos era natural ver um ou dois, mas agora qualquer um que deseja ter o sucesso apela para esse tipo de imagem. Não satisfeitos em mostrar a desgraça alheia apenas uma vez, as reprisam dezenas e mais dezenas espairecendo o sentimento de falso moralismo.

As pessoas que não conseguem se desprender da televisão deveriam se desprender ao menos a esse tipo de programa. Qual a graça de sentar e ver um helicóptero procurando tragédia ou mulheres sendo baleadas na frente das câmeras? O efeito é trivial, isso me lembra um trecho da canção do célebre MV Bill ao dizer “burrice é a marca de um povo que não lê”.

Tudo isso nasceu com o programa “Aqui e Agora”. Ao mostrar o suicídio de um homem ao vivo o Ibope subir torno de quarenta pontos. Os marqueteiros que não são nenhum pouco bobos curtiram a idéia e lançaram essa programação na televisão! Pronto! Olha só que idéia bonita. Aproveitando o embalo do bonde já marginalizaram também os pobres, negros e moradores das periferias (em maior escala). Isso é lucrativo as empresas de segurança privada que conseguem muita grana montando nas costas dos covardes do Morumbi ou Leblon.

O ponto em que eu quero chegar não é o trauma social em si, mas as pessoas que sofrem com ele. Imaginem um filho seu pobre ou negro andando pela rua e ser visto como criminoso apenas pelo estereótipo. O padrão de caráter tem sido confundido com o padrão financeiro. Qualquer um pode facilmente falar “mata que dá jeito”, mas não pode aceitar a própria responsabilidade de tentar mudar. Caso digam “isso é obrigação dos políticos”, devem saber que vocês quem o fazem e se o senado está tão degradante assim é por omissão da sociedade.

É muito fácil uma pessoa julgar a outra sentada diante de uma televisão da mesma maneira que é fácil admirar a habilidade de um músico ou artista. Entretanto ninguém pensa no que ele passou e como chegou em tal caminho. Nietzsche disse que não se julga uma ação pela sua conseqüência, e sim pelo seu início. Ele estava certíssimo!

Não quero defender bandidos ou fazer apologia ao crime, por que além do mais os perigosos são os de colarinho branco. Claro que qualquer pessoa no ápice da fome e desespero de viver diz estar disposta a aceitar o emprego que vier, como protestar se o tráfico é o único emprego que aparece?! Lá dentro das favelas faltam exemplos de vitória e oportunidade para que os jovens possam concorrer no mercado de trabalho. São obrigados a traficar ou morrer de fome. Se alguém estiver pensando que há jovens que venceram sem o crime devem pensar também que alguém lhes deu a oportunidade de batalhar!

É muito fácil um político engravatado aparecer na televisão dizendo que vai reduzir a criminalidade aumentando o número de policiais. Que bacana... Na verdade ele deveria diminuir os soldados militares para que esses corruptos saiam de cena! Se alguém morre vítima de assalto ou seqüestro é por que eles financiam o tráfico extorquindo dinheiro das quadrilhas para que as bocas possam continuar. Pra fazer uma média chamam a imprensa e capturam uns fuzis pra no outro dia venderem por dois mil cada um! Não é com assaltantes que meus pais falam pra eu tomar cuidado na rua, mas com a própria polícia. Não estou do lado de ninguém, mas ao menos os que traficam são honestos o bastante para assumir quando as instituições públicas dissimulam suas corrupções através das fardas.

Não é apologia ao crime não, mas é a realidade em que vivemos. Se policial morre é enterrado como herói e se bandido morre entra outro em seu lugar. O excesso de informações e trabalho nos deixou egoístas. Caso eu esteja bem que se dane o meu vizinho ou necessitado. Qualquer um pode ajudar, basta querer. Aquela pessoa que acha que os ricos deveriam repartir o dinheiro deveria saber que ela pode dar um pouco do que ela tem a outro que tem menos ainda; ou então aquele que tem o conhecimento ao invés de rir do que não tem deveria ensiná-lo, mas ninguém faz isso.

Na educação de consumo um bom cidadão é aquele que trabalha para ficar milionário e ser estereotipado pela mídia. Temendo sair de casa sem ser atingido por uma bala perdida ou seqüestrado por qualquer mulatinho de cabeça raspada. Sem lados certos eu estou no meio dessa guerra. Quem é da periferia teme os empresários e vice-versa.

Só se constrói um país com livros e seus homens. Não acredito que não vá melhorar enquanto os ensinos não mudarem. Professores e pais têm de ensinar seus filhos matérias úteis para toda a vida, não para tirar um dez e colar na geladeira. Deixam de ensinar sociologia, filosofia e ciências políticas por que é lucrativo pra eles. Povo calado é submisso. Só é submisso aquele que não tem conhecimento. Não tem conhecimento quem cresce com a mente vazia. E os que têm mente vazia acreditam em tudo!

Pra terminar uma letra direto do Campo de Extermínio:

“Sonho com a carta de alforria da minha
Alcatraz de Ouro
com a paz sem vigia
nem muro de tijolo

Sonho com a carta de Alforria
da minha Alcatraz de compensado
com a paz sem revolver
nem refém torturado"